terça-feira, 29 de outubro de 2019

Mãe que cuida com afeto muda até a genética da criança



A mãe que brinca, conversa, canta, conta historinha ou simplesmente fica com sua criança de um jeito atencioso e carinhoso tem o poder de transformá-la até no nível genético. E essa alteração no DNA faz com que a criança seja mais propensa a ser sociável. A primeira demonstração científica desse processo epigenético, envolvendo pequenos de até 1 ano e meio, foi publicada na edição de outubro/2019 da Science Advances. [ https://wp.me/pay7tX-6G ]

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Papai também precisa de pré-natal e apoio pós-parto




Num mundo em que as mulheres ainda ralam mais e ganham menos, parece um despropósito dizer que marmanjos também sofrem alterações no corpo durante a gestação dos filhos, e que podem até ter depressão pós-parto. Sem o barrigão, sem cataclisma hormonal e sem a bíblica dor-de-parto, por que eles mereceriam alguma atenção especial quando a mãe e o bebê precisam tanto de apoio? Bem, há uma resposta razoável, e não é apenas pra fazer média no Dia dos Pais.
[ Leia o texto completo em https://wp.me/pay7tX-6p ]


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Criança precisa enxergar os sentimentos dos adultos


Sabe-se há muito tempo que a relação da criança com a mãe, o pai e seus outros cuidadores é construída à base de sentimentos, e que a falta de transparência dos adultos quanto a suas emoções tem impacto negativo nessa construção. Agora, uma pesquisa acaba de avaliar esse impacto, pela primeira vez. E ele é significativo. [ https://wp.me/pay7tX-6b ]

domingo, 26 de maio de 2019

Osmar Terra: um ministro de Bolsonaro que quer aumentar a licença maternidade





O Ministro da Cidadania, Osmar Terra, quer aumentar a licença maternidade para 12 meses, contrariando o discurso do governo Bolsonaro, especialmente o da equipe econômica liderada por Paulo Guedes. Em entrevista exclusiva, ele diz como sustenta essa ideia num cenário nada favorável, e conta como é a sua relação com o presidente. Terra é o encarregado das políticas federais para a primeira infância, e explica por que muitas delas podem ser mantidas ao longo de governos de diferentes partidos.


sábado, 11 de maio de 2019

Nossa homenagem às Mães


VALE-PRESENTE
Inspire-se numa mãe em pleno exercício de sua função,
cuidando e brincando, dando ao filho o alimento afetivo
para viver e crescer.

A nossa homenagem às Mães vem na forma de um projeto novo: está nascendo CUIDADO crianças, uma plataforma de comunicação e de formação dedicada a mães, pais, cuidadores e educadores de crianças.

Nela estamos ampliando a oferta de informações, análises e orientações em diversos tipos de conteúdo, linguagens e formatos.

É também uma plataforma para conectar e articular pessoas que trabalham com temas da infância, tanto dos seus próprios filhos quanto de toda a molecada desse mundão.

CUIDADO crianças oferece informação de qualidade pra gente cuidar melhor. E a gente sabe que esse é um dos maiores desejos das Mães.
Nossa comunidade
Ainda estamos ajustando o novo site e as redes sociais, mas você já pode dar uma olhada, clicando no link ali embaixo.

Fazemos este convite porque você faz parte desta comunidade que surgiu em torno do livro Prepare as crianças para o mundo. Uma comunidade de pessoas que trabalham e se esforçam para dar suporte ao desenvolvimento integral das crianças, sem modismos ou soluções de conveniência.

Esta comunidade vai continuar a crescer com a nova plataforma, que privilegia a interação e o diálogo. Estamos ficando mais próximos, pra te ouvir melhor.


Feliz Dia das Mães!

Não foi nada programado. Simplesmente as coisas foram acontecendo, o projeto foi amadurecendo e a plataforma ficando pronta, bem agora, em maio.

Ainda que seja só uma coincidência, o que importa é o desejo de dar às Mães o nosso melhor esforço de informar, ouvir, dialogar e promover reflexão.

Esta é nossa oferta em homenagem a essas pessoas que, no dia-a-dia, representam a origem, o ponto de partida do nosso percurso da construção humana.


CUIDADO crianças: site e redes sociais

Entre no site (clique aqui), navegue e deixe suas sugestões.

A partir da home do site você tem acesso a nossas páginas nas redes sociais. Então aproveite para se conectar já!




quinta-feira, 2 de maio de 2019

Empresas ganham ao ajudar seus colaboradores a cuidar dos filhos



Não pense no Great Place to Work. Ok, eles vão premiar empresas brasileiras que têm boas políticas para colaboradores com filhos pequenos, mas pense agora somente nos ganhos de operação e de negócios que uma companhia tem ao dar apoio a mães e pais nos cuidados com suas crianças.

Mesmo que você seja um startupeiro cercado de millenials, sabe que a força da natureza logo vai chamá-los aos prazeres e deveres da parentalidade. Então aqueles temas de ambiente de trabalho e de equilíbrio entre vida pessoal e profissional ganham complexidade.

As empresas nos EUA perdem em média US$ 1.150 anuais por mãe ou pai trabalhador(a) com queda de produtividade e receita, assim como com custos de rescisão e novos recrutamentos. Isso dá um total de US$ 13 bilhões, segundo relatório publicado em setembro de 2018 pela ONG Ready Nation.

Por questões relacionadas às suas crianças, 63% desses colaboradores já tiveram de sair do trabalho mais cedo algum dia, 56% chegaram tarde no trampo, 55% nem foram e 54% ficaram distraídos em suas tarefas na firma, diz o estudo. Esses números mudam quando as empresas adotam políticas como horário flexível e reembolso de despesas com creche ou babá, por exemplo.


Melhora de índices

No caso da filial brasileira da seguradora Tokio Marine, a melhoria naqueles índices gerou uma queda da rotatividade de funcionários, de 21% em 2011 para 9,8% em 2017, segundo estudo da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e da United Way. O índice médio naquele setor é de 14,9%.

Se o custo da rotatividade varia entre 50% e 200% do salário anual de um empregado, a queda nesse índice representa um grande benefício, capaz de zerar a conta dos investimentos em apoio às mães e pais. Mas os benefícios vão além.

Quando sentem que seus filhos estão bem cuidados, com apoio da empresa, os colaboradores tendem a se sentir e se relacionar melhor no ambiente de trabalho, a valorizar e admirar a companhia, a se engajar mais na produção, tanto pela possibilidade de se concentrar quanto pela disposição de retribuir o apoio recebido, tendem a faltar menos e a manter o contrato por mais tempo. Além do ganho de produtividade e da retenção de talentos, essas políticas atraem bons profissionais e também clientes.

Cada companhia tem suas especificidades, e pode adotar benefícios de acordo com elas. Há aquelas que ampliam o tempo das licenças maternidade e paternidade, incluindo casos de adoção; há também creches (próprias, conveniadas ou reembolso) e berçários, espaços para lactação e para crianças na empresa, flexibilidade de jornada e de local de trabalho etc.


Informação e orientação

Mas há uma política que precisa ser adotada em todos os tipos de empresas: a informação e a orientação de mães e pais. Seja numa linha de produção industrial ou num co-working de programação de games, genitores de diferentes idades e fases de experiência precisam de suporte para compreender suas funções e, assim, cuidar melhor das crianças.

Cada um cria seus filhos como quer, sem dúvida, mas todo mundo precisa de informação sobre o desenvolvimento infantil e, principalmente, a relação do cuidado diário com a qualidade desse desenvolvimento. Não é fácil saber como lidar com os perrengues da rotina de modo que a molecada possa crescer sem tantas neuras, saudável nas suas capacidades emocionais e intelectuais.

Adultos que cuidam bem das suas crianças tendem a enfrentar menos problemas relacionados à saúde e ao comportamento delas. Esforçam-se muito, claro, mas colhem maior tranquilidade. Para isso, precisam saber coisas simples, como a importância de ler, cantar, conversar com os pequenos, olhar nos olhos, tocá-los com afeto, e também coisas mais complexas, como dar limites e lidar com birras ou revoltas de um modo benéfico.

Boletins e newsletters, TVs corporativas, cursos e oficinas etc são meios de levar essas informações e orientações aos colaboradores-cuidadores. A prática ainda é rara, mas o impacto é certeiro. E os inovadores nesse front podem, sim, pensar em ocupar um bom lugar no ranking das melhores empresas para trabalhar.


David Moisés



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quinta-feira, 25 de abril de 2019

O preço do intercâmbio para adolescentes




Com crise ou sem crise, o papo do intercâmbio em high school não falha. Nas escolas particulares, onde os pais de alunos podem cogitar investimentos em moeda estrangeira, o assunto do ensino médio no exterior aparece geralmente nas turmas de 8º e 9º anos, como se um rito de passagem da era global estivesse se aproximando. Meninas e meninos de 13 ou 14 anos têm de encarar questões como ter ou não ter grana pra estudar fora, ir ou não ir, pra onde ir, como ficar se a viagem não rolar...

A experiência com várias gerações de adolescentes intercambistas já ensinou que as questões não são apenas aquelas. Para os adultos que decidem e pagam, as agências já prepararam cartilhas recomendando que verifiquem se o adolescente está “minimamente maduro” para viver a experiência, se é capaz de lidar com regras novas no convívio com pessoas estranhas, que almoçam no café da manhã e usam palavras esquisitas. Com jeitinho, fala-se nos cuidados com aquela “depressãozinha normal” dos primeiros meses, tecnicamente tratada como “estresse de adaptação”.

Depressãozinha?

Mas talvez as questões não se esgotem aí também. Estar “maduro” é uma ideia genérica e diz pouco no caso de garotas e garotos de 15 anos a milhares de quilômetros de distância da família e dos amigos, por meses a fio. Não convém considerar normal nenhum tipo de depressãozinha entre meninas e meninos que estão numa fase crítica, construindo arduamente uma entrada para a vida adulta. Para não dizer tudo o que ocorre nesse processo, vale lembrar a intensa troca de afeto que se dá (ou deveria) nas diversas relações de cada adolescente.

Lembre-se: essa molecada tá naquela montanha russa de hormônios, humores & amores. Eles têm de se equilibrar numa fita de angústia braba, entre surtos de onipotência eufórica e sensações de fim de mundo. Quem deve estar ao lado de uma figura assim, senão quem a conhece e tem com ela alguns laços afetivos mais sólidos? Pais e irmãos, parentes e amigos são aqueles que podem suportar e apoiar os adolescentes na sua conflituosa viagem rumo ao mundo adulto, dando ombro ou colo mesmo, ouvindo-os sem criticar ― ou até brigando, mas nunca se distanciando no espaço ou no sentimento.




Engordar, se chapar ou pirar

Os que viajam acabam privados desse suporte e de experiências fundamentais. É claro que muitos dão-se bem e desfrutam com alegria dos benefícios do intercâmbio. Mas há uma ocorrência razoável de perda e sofrimento, cuja expressão mais comum se dá pela obesidade, pelo consumo de álcool\drogas e pelos transtornos emocionais. É difícil achar estatísticas sobre isso, mas pode-se contar com inúmeros relatos de ex-intercambistas familiarizados com os três caminhos lá fora: engordar, se chapar ou pirar.

Os que não conseguem ir são maioria, mas até eles acabam afetados por essa norma cultural introduzida — sem questionamentos — no percurso dos adolescentes. Não ir pra high school é meio que ser inferior em grana e em capacidade, um sinal de fraqueza e incompetência. Daí que muitos se consolem, intimamente, com a volta antecipada dos colegas que não aguentaram o tranco, ou com as visitas que os pais têm de fazer aos filhos deprimidos nas host families d’além-mar.

Adolescentes querem e precisam de cuidados

Pais de adolescentes costumam se surpreender com a necessidade de dar atenção e cuidados àqueles rebeldes micofóbicos. Adolescentes precisam e adoram ser cuidados, ainda que disfarcem muito bem suas demandas. Isso confunde os adultos, que costumam engatar a marcha do eles-têm-que-se-virar, ou precisam-conhecer-seu-próprio-valor. Tudo isso vale, mas o caminho não é apartar relações importantes e desfazer o entorno afetivo, justamente num momento delicado e decisivo do crescimento.

Ficar sem high school não significa necessariamente ser privado de uma experiência internacional. Fora desse falso rito de passagem, há programas de curta duração, de um a três meses, que podem dar à molecada uma vivência suficientemente densa lá fora, com seus ganhos intelectuais e culturais, sem provocar uma ruptura nas relações afetivas e nas experiências emocionais em andamento. E quem tá sem grana pra ir ao exterior não tem por que ficar mal: o que mais conta na vida é o que se constrói por dentro.


Angela Minatti e David Moisés


Leia também no livro:
Cair no mundo sem cair em armadilhas ………. p.385

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quinta-feira, 18 de abril de 2019

Bullying é também um problema econômico




O bullying na escola tem efeitos negativos que vão além do menor desempenho acadêmico das vítimas. Um estudo com jovens de 25 anos aponta uma incidência de problemas de saúde mental 40% maior naqueles que sofreram diferentes tipos de assédio moral, opressão e agressão durante o ensino médio. Os danos também aumentam em 35% a chance de ficarem desempregados, e a renda dos que conseguem emprego tende a ser 2% menor que a de seus pares.
Quanto mais frequente e mais intenso o bullying, maior o impacto negativo sobre as vítimas. Segundo os pesquisadores, as práticas incluem apelidos ridicularizantes ou ofensivos, exclusão de grupos, ameaças e agressões. “O bullying tem efeitos nocivos não apenas no curto prazo, mas ao longo de muitos anos”, diz Emma Gorman, do Departamento de Economia da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, co-autora do trabalho.

A pesquisa usou dados confidenciais de 7 mil alunos, obtidos no Estudo Longitudinal sobre Jovens na Inglaterra. Eles foram entrevistados em intervalos regulares até os 21 anos e, por fim, aos 25, e metade reportou ter sofrido algum tipo de assédio ou agressão quando tinha entre 14 e 16 anos. “O bullying está disseminado nas escolas”, lembra a pesquisadora.

Os prejuízos à vida acadêmica, no presente e no futuro, já eram bastante conhecidos. O novo estudo reforça que as vítimas têm menor probabilidade de entrar e progredir no ensino superior, mas acrescenta a perspectiva da saúde mental e da vida profissional. “Trata-se de um tema importante de políticas públicas. (...) É preciso adotar uma abordagem mais objetiva para reduzir o bullying”, alerta Gorman.

David Moisés




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quarta-feira, 10 de abril de 2019

A vantagem do livro de papel



Ler um texto didático impresso no papel é significativamente melhor do que lê-lo numa
tela, tanto para crianças quanto para adultos. É o que conclui um estudo apresentado
nesta semana (6\4\19) na conferência anual da associação dos pesquisadores em educação
nos EUA, a AERA. As três principais constatações:

1 - a compreensão literal e interpretativa do texto didático é maior, em medida estatisticamente
significativa, quando lido no papel do que quanto lido na tela;

2 - quem lê na tela tende a pensar que está processando e compreendendo o texto didático
melhor do que realmente está;

3 - no caso de textos narrativos (não didáticos), não há diferença significativa entre as
performances de leitura no papel e na tela.

São evidências que podem contribuir para melhor orientar o uso dos recursos tecnológicos
nas aulas, estudos e tarefas das crianças. “É legítimo considerar que a leitura no papel
é melhor em termos de performance e eficiência”, sem qualquer acréscimo de esforço ou
de tempo, escreve a autora Virgínia Clinton, da Universidade de North Dakota. As causas
dessa diferença não foram analisadas.

A pesquisadora fez uma meta-análise de 33 estudos independentes publicados, em inglês, nos últimos dez anos. Esses trabalhos envolveram experimentos com 2.799 participantes, ora crianças, ora adultos, sempre avaliando a performance de leitura focada na compreensão de texto.


David Moisés



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segunda-feira, 18 de março de 2019

Como evitar novos massacres?




A gente quer saber por que alguém faz algo tão grotesco como aqueles dois rapazes que mataram 8 e feriram 11 pessoas indefesas numa manhã comum de verão em Suzano, em 13\3\2019. Quando essas tragédias acontecem, perguntar “por quê?” é uma tentativa inicial de chegar à resposta que mais interessa: como evitar que aconteça de novo. Porque ninguém quer estar à mercê da brutalidade aleatória, e porque ninguém quer se ver um dia no lugar dos familiares dos homicidas. Junto com a dor compartilhada e o luto, busca-se um rumo, uma imagem que recomponha o cenário estilhaçado pelo absurdo.

Quem tem filhos pequenos quer saber o que fazer para que adolescentes (os meus, os seus, os deles, os nossos) não se transformem naqueles matadores. No geral, essas tragédias suscitam debates sobre políticas de segurança, e é mesmo importante discutir o acesso a armas, o papel dos funcionários das escolas etc. Também há debates necessários sobre a cultura da violência nos filmes e games, no discurso (inclusive de autoridades) que legitima o uso da força letal, no bullying, nas artimanhas de grupos radicais que promovem crimes de ódio etc. Mães e pais têm muito interesse nesses temas, mas nenhum deles interessa tanto quanto as causas da evolução de uma criança à condição de autor de massacre.

A chave na infância

Evitar que essa evolução ocorra é a chave de todas as políticas, e sabe-se — até intuitivamente — que ela está no cotidiano das famílias, na rotina dos adultos que cuidam de crianças. A lógica é simples: se todos conseguirem apoiar adequadamente o desenvolvimento dos filhos, reduz-se a probabilidade de que os futuros adolescentes e adultos venham a representar riscos e perdas à comunidade. A partir daí, as políticas de segurança tendem a ser mais baratas e eficazes. Essa lógica é um raro consenso nesses tempos de polarização ideológica, está presente nos argumentos da esquerda, do centro e da direita.

Faz sentido pensar que a dupla de assassinos da escola Raul Brasil poderia ter tido um futuro melhor, se ambos tivessem desenvolvido algumas capacidades a partir da infância. Não se sabe exatamente quais fatores se alinharam para resultar na tragédia, mas é estatisticamente evidente que a dificuldade de se enturmar e de namorar, o assédio moral e até a depressão são causas insuficientes para se planejar e executar uma chacina seguida de suicídio. Alguma coisa, ou alguma falta, fez aqueles caras serem incapazes de lidar com os desafios do convívio, e parece tê-los levado à deep\dark web, onde psicopatas sem causa e terroristas apocalípticos dão plantão para manipular ressentimentos.


Estrutura emocional

Ser zoado no pátio é revoltante, ser gelado pela galera é terrível, sentir-se feio e não desejado é muito triste. Dá vontade de se vingar, de fazer sofrer e até de matar, sim. Quem cresceu num ambiente minimamente afetivo, com limites e suporte para construir uma estrutura emocional suficientemente sólida, também sofre nessas situações, sente raiva e pensa em vingança, mas consegue transformar esses impulsos e pensamentos em alguma nova perspectiva de vida. A capacidade de afeto (empatia, compaixão...) ajuda a processar o impulso de infligir sofrimento aos outros, mesmo sob frustração e dor. Porque a dor de fazer mal é maior, o mal turva o próprio bem-estar e reduz a felicidade.

A vida é dura para a grande maioria dos terráqueos, e injusta para muitos, mas é preciso estar doente, psíquica e\ou emocionalmente, para começar a achar que ela vale menos do que a morte. Essa condição pode surgir em qualquer idade, mas a resiliência e a capacidade de desejar, de fazer planos e perseguir seus sonhos, faz com que a maioria siga em frente, insistindo, experimentando, perdendo e ganhando — e chorando em solidariedade às vítimas de um massacre. Também essas competências são construídas na infância, na relação diária das crianças com os adultos que cuidam delas.

Trabalho com as crianças

Mas, se a questão é como evitar que outros adolescentes se entreguem às trevas, e se a chave da solução é o cuidado na infância, é necessário ir mais fundo e além daquela resposta padrão, tipo “tudo começa na família”. A ideia da “família estruturada” está longe de ser resposta para o desenvolvimento da empatia, da resiliência, da capacidade de desejar e trabalhar por seus sonhos, assim como de outras competências emocionais. Sejam casais comuns, sejam famílias com formatos diversos, sejam cuidadores dos filhos dos outros, todos precisam arregaçar as mangas e trabalhar arduamente nessa tarefa de criar seres humanos. Parece óbvio, mas não é.

Esse trabalho é difícil, chato e cansativo, porque ocorre justamente naquela peleja diária de choros, birras e traquinagens, na mesmice tediosa dos dois primeiros anos de vida dos bebês, na administração da rotina de sono, banhos e refeições da molecada, na lida com as explosões de raiva diante dos limites... Em muitas “famílias estruturadas” nem sempre há disposição para esse esforço. Troca-se limite por negociação, frustração por compensação, choro e revolta (“me poupe…”) por uma intelectualização precoce de crianças que se comportam bem hoje, mas que terão sérias dificuldades para lidar com os nãos apresentados pela vida. Por preguiça, comodidade, desconhecimento ou tudo junto, deixa-se que os pequenos cresçam sem passar pelas experiências necessárias para transformar seus impulsos primitivos em sentimentos.


Novos desafios para quem cuida

Em escala social, esses lapsos no cuidado às crianças podem ter impacto nas epidemias de obesidade e drogadição, na alta ocorrência de depressão e dependência de medicamentos, por exemplo. Adolescentes emocionalmente frágeis também estarão mais suscetíveis a relações tóxicas, e nelas inclui-se a submissão a grupos e líderes manipuladores. Não se trata de uma sentença de condenação, mas é evidentemente alta a probabilidade de uma evolução problemática para a adolescência e a vida adulta. Ainda mais quando cresce a oferta de drogas de rápida adicção, de incentivos ao uso de armas e de causas exóticas para justificar e facilitar a vingança suicida.

Esses desafios adicionais estão hoje na agenda de mães, pais e cuidadores de crianças — em todos os tipos de arranjo familiar —, e são grandes motivos para que assumam de fato suas funções. É indispensável que a evolução para a adolescência tenha uma perspectiva de crescimento e realização, que o adolescente crie para si um valor de vida suficiente para resistir aos obstáculos, às tristezas e iras, às seduções e manipulações, suficiente para atiçar a criatividade e dar-lhe forças para transformar sua realidade. Isso só é possível com a insubstituível ajuda dos adultos, em cada momento aparentemente banal da rotina com os pequenos.


David Moisés e Angela Minatti

Leia também no livro:
Limites para o futuro ………. p.47


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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Cuidado com os brinquedos 'neurocientíficos'


Nos dois posts anteriores, você ficou sabendo quais são as características fundamentais de um brinquedo realmente educativo, e viu o que dizem especialistas sobre alguns exemplos de brinquedos, aplicativos e softwares oferecidos no mercado. Este último post da série trata das descobertas científicas sobre o impacto dos jogos educativos no aprendizado das crianças. Saber um pouco dessas coisas é importante pra gente não entrar ingenuamente na onda do “brain training” infantil.

Essa onda é agitada por empresas que estão ocupando o nicho dos brinquedos “neurocientíficos”. É legal alguém transformar o conhecimento científico avançado em produtos e serviços que melhoram a vida das pessoas, mas há sempre o risco de alguma coisa não funcionar. E há também o risco de empresas menos sérias saírem vendendo fórmulas mágicas para turbinar a genialidade da molecada, tudo com o selo da neurociência-para-o-dia-a-dia.



O “treinamento do cérebro” ou “treinamento cognitivo” vem ocupando espaço como uma das categorias de brinquedos e jogos infantis, e é nela que aparecem algumas fórmulas bem questionáveis. As pesquisadoras Brenna Hassinger-Das e Kathy Hirsh-Pasek compilaram os mais recentes estudos sobre a aprendizagem humana e constataram: o “brain training” é muito limitado em seus benefícios e em sua utilidade.

Primeiro, é importante lembrar que esse tipo de treinamento foi concebido para adultos, especialmente idosos. As pesquisas com esses indivíduos mostraram que eles melhoram as respostas específicas nas tarefas em que foram treinados. Só. Se você treina com um app para ter ganho de memória, você ganha memória apenas para execução de tarefas similares, mas não ganha velocidade de processamento de ideias; e vice versa. Assim, não dá pra dizer que o treinamento cognitivo vai aumentar sua inteligência, sua memória, sua habilidade de pensar etc.

Benefícios mais amplos para as crianças são obtidos com brinquedos, aplicativos e programas que extrapolam o simples treinamento e desafiam os pequenos em suas competências emocionais e cognitivas conjuntamente. Aí vale lembrar aqueles cinco critérios que caracterizam o potencial educativo dos jogos e brinquedos, com destaque especial para a interação humana. Embora possa haver ganhos eventuais de aprendizado num app solo, é na brincadeira coletiva que a molecada desenvolve mesmo suas múltiplas capacidades, segundo as pesquisas.


A tendência do mercado, porém, é ir no sentido contrário. Hassinger-Das e Hirsh-Pasek observam que o esforço das empresas está justamente em criar amiguinhos virtuais e outros recursos interativos para que cada criança possa passar mais tempo sozinha com seu tablet ou celular. E alertam que é preciso pesquisar mais as consequências desse “brain training” solitário sobre o cérebro dos pequenos.

A propósito, há um grande estudo longitudinal que está para ser divulgado nos EUA, tratando desse tema. As pesquisadoras não adiantam informações, mas uma entrevista na CBS News, em dezembro\2018, revelou alguns pontos importantes. Na entrevista, Gaya Dowling, do National Institutes of Health (NIH), disse que crianças de 9 e 10 anos…

  • que passavam mais de sete horas por dia com tablets, smartphones e videogames apresentaram um afinamento prematuro do córtex, isto é, uma antecipação do processo de amadurecimento da área cerebral que processa informações dos cinco sentidos (Dowling ressalvou que ainda não se pode dizer se isso é bom ou ruim, e nem se o fenômeno decorre diretamente do uso de telas pelas crianças);
  • que passavam mais de duas horas por dia diante de telas tiveram notas mais baixas em testes de raciocínio e linguagem.

O estudo do NIH entrevistou e escaneou 11 mil crianças durante uma década, em 21 pontos dos EUA, a um custo de US$ 300 milhões. Deve ser publicado neste começo de 2019. Quanto ao artigo de Hassinger-Das e Hirsh-Pasek, que nos guiou nestes três posts, foi publicado na edição de janeiro\2019 da revista Cerebrum, da Dana Foundation, que incentiva pesquisas sobre o cérebro.



David Moisés

Leia também:

Leia também no livro:
A regra do jogo entre pais e filhos..........p. 94


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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Brinquedos educativos (e outros nem tanto)


Há um número razoável de brinquedos, aplicativos e sotwares que podem ser honestamente considerados educativos. As pesquisadoras Brenna Hassinger-Das e Kathy Hirsh-Pasek fizeram uma meta-análise usando aqueles cinco critérios que caracterizam o potencial pedagógico dos produtos à venda, e escreveram sobre alguns deles. Nem todos estão nas lojas brasileiras, mas quase sempre há similares.

A categoria dos brinquedos de montar (block building) parece receber a melhor avaliação. Uma criança de 3 anos que brinca de montar blocos, dizem os estudos, mostra melhor consciência espacial, incluindo a habilidade de transformação espacial. Além disso, mostrará melhor compreensão matemática quando chegar ao ensino fundamental. Esses brinquedos ajudam a desenvolver capacidades relacionadas aos campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.



Lego é considerado um bom modelo nessa categoria, por exigir da criança uma postura ativa e engajada, por envolver questões relacionados à vida real dos pequenos e permitir interação com outras pessoas. A criança faz rotação de peças, alinha e corrige bordas, observa formas etc. Nem sempre, porém, o Lego tem um objetivo pedagógico explícito.

Mega Blocks e Magna Tiles também são citados de modo positivo, enquanto King Arthur’s Castle é mencionado com uma qualidade adicional: ao montar o castelo, “com fosso” e tudo, os pequenos podem exercitar também habilidades de narrativa. Por fim, o jogo virtual de montagem de blocos Minecraft é elogiado pelas “possibilidades ilimitadas de experiências individuais” que “permitem aprender geometria espacial, linguagens, letramento e ecologia”, além de refinar habilidades de resolução de problemas.



Na categoria da combinação de peças (tile-matching) em tela digital, o app\programa Tetris também é reconhecido como educativo para crianças, por “aumentar habilidades de visualização espacial e rotação mental”.

Na categoria dos jogos de palavras, Scrabble Junior e Boggle Junior são citados pelas pesquisadoras como exercícios que melhoram o raciocínio fluido ou a velocidade do processamento das ideias, dependendo do tipo de operação que se faz no jogo. Neles, as crianças rearranjam as letras, dando formas mais sofisticadas às unidades de sentido das palavras. Além de contemplar os cinco critérios, apresentam também um “elemento competitivo que parece motivar o aprendizado e criar uma visão prazerosa em relação ao aprendizado”.

Na banda dos reprovados, as autoras dão exemplos de duas diversões ruinzinhas e de dois produtos que causam vergonha alheia. O primeiro é um app, vendido com apelo “educativo”, que se limita a expor algumas formas geométricas e solicitar que a criança aponte o quadrado, o círculo etc; daí, som de aplausos se ela acerta, ou um “tente de novo!” se ela erra. “Dificilmente inspira aprendizado”, avaliam.
Já o brinquedo de encaixe de formas geométricas com recursos eletrônicos, peca justamente pelos recursos eletrônicos: teclas de piano e botões com áudios tipo “pare”, “devagar” etc. A parafernália tec mais atrapalha do que ajuda. Os pais brincam muito mais com os pequenos, usando expressões espaciais tipo quadrado e triângulo, e acima ou abaixo, quando brincam de encaixe sem usar os botões, teclas e sons, segundo as pesquisadoras.






Entrando na zona dos brinquedos falsamente educativos, desponta o iPotty, um peniquinho com suporte para tablet. Foi eleito o pior brinquedo do ano de 2013, nos EUA, pela campanha Infância Livre de Comércio. Sugerir que o nenê faça cocô ou xixi de olho num tablet é reforçar a ideia de que a criança precisa ser entretida a cada segundo do dia, mesmo quando vai ao banheiro. Isso, sem falar no impacto no processo de desfraldamento.

Por último, um game para crianças que teve de ser retirado do mercado, em maio de 2018. O LumiKids era tão fraco do ponto de vista educativo, que a empresa Lumosity precisou pagar US$ 2 milhões num processo por propaganda enganosa, pois “falhou em cumprir o que prometia”. Este vídeo de 2015 dá uma ideia do que rolava no joguinho.


David Moisés

[ No próximo post desta série: o que a ciência já descobriu sobre o treinamento cerebral com brinquedos e jogos ]


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