sábado, 12 de abril de 2014

Figurinhas: você pode trocar muitas com seu filho




Saiu o álbum de figurinhas da Copa e você já sabe disso, claro. Quem tem filhos integra a população que vive sazonalmente a inundação de pedidos para ir à banca da esquina. Vale a pena viver essa experiência com a molecada. São fortes emoções, diversos conflitos e sentimentos que constituem matéria-prima para viver a vida. Se os pequenos tiverem o suporte dos adultos, melhor ainda.

Para isso, é legal lembrar algumas coisas importantes para eles que estão em jogo nessa caçada à cobiçada figurinha brilhante.

A capacidade de esperar para ganhar, para saciar uma vontade, é quase sempre a primeira a ser desafiada. Portanto, é a primeira grande oportunidade para aprender a dar conta dessa coisa angustiante que a vida impõe a todos. De olho nessa necessidade dos pequenos, os pais podem decidir como e quando comprar um álbum, quando e quantos pacotes de figurinhas serão comprados de cada vez.

Esperar para receber o álbum, esperar para comprar as próximas figurinha, esperar para chegar em casa e colar nas páginas com capricho, tudo isso permite experimentar um estado (mais que uma simples ideia) de que algo bom está em curso e vai se estender. Os adultos podem ajudar as crianças a suportar aquela sensação aflitiva da espera. Podem dar apoio e colo, dizer que compreendem e também sentem aquilo nessas situações. E podem se esforçar para não sucumbir à agonia dos filhos, não comprando a banca inteira nem tachando-os de “ansiosos” quando estão apenas trabalhando com seus sentimentos mais crus, encontrando lugares internos para eles e aprendendo a viver o que é bom.

Lidar com sensações e sentimentos contraditórios é outra experiência valiosa para as crianças. Uma montanha-russa de conquistas, frustrações, vitórias, derrotas, inveja, solidariedade etc é percorrida no convívio com os irmãos, primos e colegas que se comparam, competem, se ajudam, trocam, trapaceiam, perdem de bobeira, jogam bafo… Experimentar sensações opostas ao mesmo tempo é, em si, muito enriquecedor. São momentos em que a compreensão se aprofunda. Para o molecada, é também uma chance de perceber a mudança de estados de humor entre os colegas, que ora têm mais, ora têm menos figurinhas.

Dá para os pequenos compartilharem essas impressões e sensações, dá para conhecerem maneiras diferentes que cada um tem de batalhar, suportar as esperas e frustrações, curtir. É um cenário interessante em que eles precisam se manter por algum tempo num clima de algo-completo e algo-faltando. E podem ter o prazer daquela figurinha suada, conquistada, com história, podem se confrontar com as neuras das outras crianças, com a atitude daqueles que dão aos colegas as figurinhas que sobram, com a vontade de não dar as suas a ninguém, com a superioridade do primo no bafo, com a falta de grana do amigo (ou sua) para completar o álbum...

Experimentar no mundo real esse choque entre vontades e restrições ajuda a perceber que as circunstâncias da própria vida podem dar um grande barato, que coisas legais também acontecem à revelia, que o controle não é a chave do negócio. Tudo isso é intenso, e o apoio dos adultos faz toda a diferença para determinar se o álbum estará completo tão logo o último lote de figurinhas chegue às bancas, ou se a aventura vai rolar de modo mais cadenciado. O importante é perceber como as crianças estão conseguindo processar as sensações, pensamentos e sentimentos agitados nessa maratona.

Para os pais, essa aventura é uma oportunidade de compartilhar com os filhos uma série de situações, tão diversas quanto enriquecedoras para grandes e pequenos. É claro que dá mais trabalho que liberar uma verba e ver o(s) álbum(ns) completo(s) algumas semanas depois. Mas olhinhos brilhantes valem mais que todas as figurinhas mais raras, certo?

Angela Minatti e David Moisés


Figurinhas na escola
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