quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O que acontece quando papai cuida das crianças

A boa notícia é que mais pais - homens - estão se dedicando a seus filhos.

A má notícia é que não basta ficar com a molecada, no estilão pastor de ovelhas; tem de se empenhar.

A boa notícia vem da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), com dados de 2006 que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) empacotou: cresceu o número de famílias compostas por homens sozinhos que cuidam de seus filhos. Eram 2,1% do total de famílias brasileiras em 1993, e o porcentual cresceu para 2,7% em 2006.

Parece pouco, mas note bem: são pais sozinhos, que assumem integralmente a família. Se considerados os homens que vivem com as mães de seus filhos, certamente se pode notar um crescimento ainda maior da participação paterna no cuidado às crianças. Sobre isso não há estatísticas, mas as ruas demonstram bem. Ver um humano do sexo masculino passeando com seu bebê numa manhã de sol já não é coisa de outro mundo.

A má notícia vem de um estudo britânico que demonstrou o que acontece quando papai cuida das crianças. Direto ao ponto: muitas das crianças se saem mal nos seus primeiros anos de vida escolar, principalmente os meninos. Isto porque os homens, quando encarregados de cuidar da prole, "resumem suas tarefas a monitorar a criança e atentar para suas necessidades físicas, sem buscar oferecer atividades que estimulem a criatividade e o desenvolvimento de habilidades intelectuais".

Agora, os detalhes e os descontos. Trata-se de um estudo com 6 mil crianças nascidas no início dos anos 1990 em Bristol. A pesquisadora Elizabeth Washbrook, da universidade local, analisou famílias biparentais, estáveis, com padrão cultural médio e sem ocorrência de depressão pós-parto entre as mães.

Embora pareça um daqueles estudos-de-ingleses-que-não-têm-mais-o-que-fazer, este foi financiado por um centro de pesquisas em políticas públicas, o Centre for Market and Public Organisation, em 2007, porque interessa aos britânicos avaliar impactos da licença-paternidade instituída em 2003. Sim, papais bretões têm licença remunerada para dividir com as mães as tarefas neo-natais.

A pesquisadora observou que:

- meninos que passavam mais de 15 horas por semana exclusivamente sob cuidados dos pais tiveram pior desempenho no início da vida escolar, aos 4 anos, sobretudo os que foram cuidados mais intensamente de 1 a 3 anos de idade

- meninas que passavam mais de 15 horas por semana exclusivamente sob cuidados dos pais tiveram melhor desempenho no início da vida escolar, aos 4 anos, sobretudo as que foram cuidadas mais intensamente de 1 a 3 anos de idade

Os gráficos do estudo permitem fazer uma leitura simplificada do "resultado" da companhia dos papais, aos 4 anos de idade dos filhos e filhas:

1. homens que dedicaram 5 a 15 horas semanais a...
> filhos de até 1 ano = desempenho escolar ligeiramente bom
> filhos de 1 a 3 anos = desempenho escolar muito ruim
> filhas de até 1 ano = desempenho escolar muito bom
> filhas de 1 a 3 anos = desempenho escolar ligeiramente ruim

2. homens que dedicaram mais de 15 horas semanais a...
> filhos de até 1 ano = desempenho escolar ligeiramente ruim
> filhos de 1 a 3 anos = desempenho escolar muito ruim
> filhas de até 1 ano = desempenho escolar ligeiramente ruim
> filhas de 1 a 3 anos = desempenho escolar muito bom

É claro que os pais de Bristol não são modelo para nada em termos globais, mas os dados levam a questões interessantes para quem realmente quer cuidar dos filhos.

Ficar com as crianças é, acima de tudo, dar um suporte físico e afetivo para que elas possam brincar, fantasiar, experimentar livremente, em segurança e no seu ritmo. Não confundir com sessões de jogos educativos para estimular a inteligência. Aliás, os senhores britânicos podem estar pecando também pelo excesso programático em seus turnos com os pequenos, e não apenas pela postura pastoril.

O estudo também aponta para questões culturais e sociais. Até que ponto os costumes e os estereótipos impedem que os homens se sintam à vontade e confiantes no cuidado a seus filhos? Haverá algum tipo de pressão ruim dos pais sobre os filhos, e não dos pais sobre as filhas?... Dá para pensar muito.

Marmanjos interessados em fugir das fraldas e queijinhos certamente vão usar os dados de Bristol para desestimular cobranças por parte das parceiras; mulheres interessadas em demonstrar superioridade de gênero também podem citar a pífia contribuição masculina à vida acadêmica dos pequenos. É do jogo. Só não vale levar a sério.




segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Leitora comenta:
Indiquei a muitos educadores para reuniões com pais

Sem dúvida, posso dizer que o livro Prepare as crianças para o mundo é uma ferramenta imprescindível para todos aqueles que estão envolvidos na educação de crianças.
Quantos artigos são identificados com as situações que vivemos no dia a dia!
Quanta reflexão proposta para analisarmos melhor nossas atitudes em relação às crianças!
Indiquei para muitos educadores que se serviram de trechos do livro para trabalhar em reuniões com pais, ou estudos em reuniões pedagógicas.
Esmeralda, pedagoga, de São Paulo


sábado, 16 de outubro de 2010

Leitor comenta:
Nada a ver com fast foods das livrarias

Estou me deleitando com a leitura, estou muito empolgado com o livro (Prepare as crianças para o mundo).
Não tem nada a ver com os "fast foods" comprados em livrarias.
Está sendo um dos melhores livros que já li. E olha que leio muito!
Silas, de Curitiba


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Estudo: um alerta para mães e pais durões

Três estudos produzidos na universidade norte-americana de Notre Dame estão servindo de alerta para mães e pais durões, que acham que qualquer afago vai fazer suas crianças ficarem mimadas. Acostumados ao padrão nem-vem-que-não-tem-colo, casais daquele país estão criando uma geração de pequenos mais violentos, mais depressivos e menos felizes, segundo a pesquisadora Darcia Narvaez, ao privá-los do contato físico cuidadoso e afetivo.

A professora trabalhou com dados sobre práticas de casais com crianças na faixa dos 3 anos, mais um estudo longitudinal sobre hábitos de contato físico coletados numa pesquisa nacional sobre prevenção de abuso e, ainda, um estudo que comparou práticas de cuidados de casais norte-americanos e chineses. O trabalho dela sugere que nas eras das comunidades caçadoras-coletoras, quando os pais carregavam os filhos pequenos junto ao seu corpo, as crianças cresciam mental e emocionalmente mais saudáveis.

Suas conclusões reforçam a importância do colo, do abraço, das mãos dadas, da presença na hora do choro, da brincadeira, do convívio e de tudo aquilo que se faz quando não inventam teorias e guias que mandam você deixar a criança chorando sozinha no seu quarto e sempre longe dos seus braços. E essas teorias proliferaram. É comum encontrar quem tema estragar suas crianças ao ficar junto a elas quando choram.

Como é costume dos norte-americanos, as conclusões da doutora Darcia resultaram numa listinha de seis condições - ou dicas - para papais e mamães criarem crianças felizes. É mais do mesmo, só que ao avesso. Nem vale a pena citar as dicas, mas é bom constatar que também estudos variados e recentíssimos reconhecem o papel fundamental da presença e do cuidado dos adultos, em palavras, gestos, toques e escuta aos pequenos.



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Estudo: adolescente curte tomar decisões arriscadas

Não é tanto por inconsequência que garotos adolescentes tomam decisões arriscadas; é muito mais porque eles realmente curtem o risco. Essa constatação está num dos primeiros estudos quantitativos produzidos sobre o tema, publicado pelo UCL Instituto de Neurociência Cognitiva, de Londres.

O estudo não mostra por que esses adolescentes são "programados" para se arriscar. Afinal, seriam características intrínsecas da idade? Seria um fenômeno determinado por fatores sociais e/ou emocionais da civilização pós-moderna? A pesquisa não abarca essas questões, mas contribui bastante ao identificar mais claramente a motivação de decisões pessoais que podem levar, por exemplo, ao sexo inseguro.

O estudo envolveu um grupo masculino na faixa dos 9 aos 35 anos de idade e utilizou um programa de computador em que os 86 voluntários tinham de optar por soluções rápidas sob pressão. A faixa de 14,38 anos de idade optou predominantemente pelas soluções mais arriscadas e foi a que reportou maior satisfação com as situações que resultaram numa "escapada de sorte".


ÍNTEGRA: Adolescents’ heightened risk-seeking in a probabilistic gambling task



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Você mandaria seu filho doente para a escola?

Se seu filho pequeno estivesse com febre ou diarreia, ou ainda tendo vômitos, você o mandaria para a escola normalmente? Metade dos pais britânicos responderam que sim, que entregariam sua cria doente na escolinha para um dia "normal" de atividades.

A pesquisa foi feita por uma companhia de seguro médico, a Bupa, e os números foram divulgados na edição online do jornal inglês The Guardian. Os principais resultados: dois terços dos casais acreditam que as crianças vão melhorar quando estiverem na escola; um em cada quatro casais simplesmente manda à escola porque diz não ter alternativas para cuidar das crianças; 18% diz que tem compromissos profissionais e não pode cuidar dos pequenos doentes.

Quase 20% dos pais britânicos acredita que vômitos e diarreia não são motivo para deixar de ir à escola, mas 40% acham que conjuntivite sim. Médicos dizem que vômitos e diarreia são sintomas que exigem reclusão, para reduzir o risco de eventual contágio de outras crianças na escola.

A pesquisa mostra muito mais do que uma frieza dos genitores britânicos: mostra sinais de grande despreparo para a função de cuidar dos pequenos. Muitos deles responderam que já se sentiram enganados pelas crianças, que subitamente começavam a melhorar da febre e paravam de vomitar quando percebiam que iam ficar em casa, com mamãe ou papai, enquanto estes perdiam compromissos e viam seu trabalho se acumular.




domingo, 1 de agosto de 2010

Leitora comenta:
Não tinha encontrado nada igual na literatura

Adquiri (o livro Prepare as crianças para o mundo) há poucos dias e não consigo parar de consultá-lo... Tenho um filho de 2 anos e meio e o livro apresenta o comportamento da ferinha com detalhes nítidos. Não tinha encontrado nada igual na literatura. Excelente e de um humor admirável. Adorei o parágrafo (página 32) em que as mamães pensam em herança genética e reencarnação pelo comportamento do filho. Realmente é isto o que acontece! Como seria bom se TODAS as famílias pudessem ter acesso e conhecimento de um material como esse. Talvez não ocorressem tantos infanticídios no Brasil.
Viviane Z.C., de Apucarana (PR)

Leitora comenta:
Forma clara e humana de tratar a educação infantil

Gostaria de aproveitar a oportunidade para dizer que eu já li o livro (Prepare as crianças para o mundo) e realmente me encantei com a forma clara e ao mesmo tempo tão humana e bem conceituada a respeito da educação infantil e principalmente da formação de pessoas. Estes exemplares são para dar de presente. Pois foi esta a minha sensação, de ser presenteada, ao ler este livro.
Parabéns!
Luciana P.M.L., de São Paulo

Conte sua experiência com o livro


Leitores de Prepare as crianças para o mundo não são leitores comuns. Portanto, há histórias muito interessantes sobre como o livro foi conhecido e, principalmente, como foi usado.

Queremos reunir aqui os relatos dos pais, mães, educadores, de todos os que fazem parte desta rede de cuidadores de crianças e adolescentes.

Conte aqui a sua experiência.

É importante compartilhar relatos como o daquele pai/avô que fez cada um de seus filhos/pais lerem este conteúdo, ou do grupo de amigos que se reunia uma vez por semana para jantar e ler um ou dois textos.

São histórias que podem inspirar outros leitores a se tornarem também atores neste esforço conjunto de ajudar os pequenos a crescer, ampliando o alcance do conteúdo do livro.

Mande seu relato para prepareomundo@gmail.com, e não deixe de fazer seus comentários sobre as experiências postadas aqui.

Compartilhe e contribua!

sábado, 13 de março de 2010

Batismo etílico nas festas de 15 anos

Providenciar um terno para o seu filho ir ao aniversário de 15 anos da colega já era um trabalho e tanto, mas agora o debut dos pais na adolescência da molecada vem acompanhado de um problema bem mais complexo: o que fazer com os coquetéis etílicos que os buffets adotaram como grande atração nos bailes?

Nem todo mundo quer ver sua cria estrear no mundo dos gorós com 14, 15 ou 16 anos. Assim como nos tradicionais bailes da primeira-valsa-com-papai, as baladas de hoje também servem para marcar um adeus à infância, mas carimbar esse passaporte com álcool é uma pobreza. Muito perigosa.

Pode-se imaginar como tudo começou: alguém achou bacana inovar e teve a idéia de montar um balcão de coquetéis numa dessas festas, talvez para agradar aos pais e tios que eventualmente estivessem presentes; é claro que os garotos aspirantes a gente grande - com todo o direito e o dever - ficaram empolgados com o desafio, e criou-se um clima muito interessante. O sucesso da festa inspirou as festas seguintes, a ponto de ninguém mais admitir um aniversário de 15 anos sem a oferta livre e generosa de Lagoa Azul ou Sex on the Beach.

Pais têm sido questionados por seus filhos sobre quando permitirão acesso ao balcão dos coquetéis nas próximas festas. E muitos pais não têm sido questionados, o que pode ser pior. Nos bailes-baladas, que há cerca de cinco anos vêm aquecendo o mercado dos buffets, muitos adolescentes perdem amigos por não freqüentarem o bar.

A moda ofuscou a lei, que diz: não se pode servir bebida alcoólica para menores de 18 anos.

Uma mãe que consultou recentemente um buffet para orçar uma festa de 15 anos, sem adultos, questionou o fato de oferecerem coquetéis. Ouviu uma resposta lapidar: "A senhora é quem escolhe... Afinal, o que é que pode e o que é que não pode? O que tá certo e o que tá errado?... Vai do gosto de cada um."

Felizmente, a mesma mãe teve a oportunidade de ouvir, em outro buffet, uma resposta melhor: "Infelizmente não oferecemos coquetéis com álcool, porque a lei proíbe."

Mas há coquetéis sem álcool, e aí aparece outro fenômeno interessante. Se você quiser que seu filho e convidados brinquem de encher a cara, os buffets têm receitas espumantes e fumaçantes para "pensarem que é bebida".

É uma espécie de pedagogia do consumo de álcool, na qual os educadores de balcão servem bebidas doces, adequadas ao paladar infanto-juvenil - ainda não adaptado às bebidas etílicas -, e vão criando um clima legal de aprendizado do hábito futuro.

A propósito, acaba de sair um estudo do Instituto Nacional do Abuso do Álcool e Alcoolismo, dos Estados Unidos, dizendo que beber na adolescência torna muito maior o risco de consumo excessivo e dependência na vida adulta. Segundo a BBC Brasil, os pesquisadores explicam que o cérebro dos adolescentes fica programado para associar o álcool ao prazer.

O estudo ainda será publicado, mas o NIAAA - sigla em inglês - tem outras boas publicações interessantes sobre o tema.

(post publicado em 10/2/2008 no blog de David Moisés no Estadão online)