sábado, 20 de janeiro de 2018

Hora de conversar sobre o terror




A gente não gosta de falar dessas coisas com as crianças, mas é importante ter um tempo com elas pra conversar sobre o que veem e ouvem dos atentados terroristas, das balas perdidas e execuções, do risco de um conflito nuclear e outras loucuras desse tipo. Mesmo quando protegidos do noticiário (que às vezes supera a ficção em dramas absurdos), os pequenos percebem muito bem os fragmentos das informações e o clima ruim. Quando expostos às telinhas, então, a aflição dispara.

Às vezes eles fazem perguntas, às vezes eles ficam soturnos ou agressivos enquanto esses assuntos quicam nas cabecinhas à procura de um ponto de encaixe, uma forma de expressão, um modelo de explicação. As perguntas são às vezes incômodas, porque os adultos também se sentem angustiados e à procura de explicação para tanta estupidez. Então é preciso dar conta do próprio mal-estar e também do mal-estar da molecada. Tem de respirar fundo e encarar o tema, seja respondendo ou chamando pra conversa.

E nem sempre a conversa começa com um papo direto. Pais atentos percebem quando o tema surge nas brincadeiras, nas situações da rotina, nos desenhos e rabiscos… É hora de parar tudo (mesmo: jobs, chefe, sua série preferida etc, tudo fica pra depois) e voltar toda a atenção aos pensamentos e sentimentos que estão aparecendo naquele momento. É hora de ouvir e acolher o que as crianças conseguem expressar, sem críticas nem explicações, dando corda, deixando sair.

Ouvir e acolher não é apenas um gesto de gente grande, é também um jeito honesto de mostrar que também os adultos estão preocupados, que reconhecem os medos dos pequenos e sentem alguns medos parecidos. Essa é uma mensagem clara de que o mal-estar não é um problema particular deles, que seus sentimentos são verdadeiros e legítimos, que mães, pais e demais cuidadores compreendem e podem confortá-los em alguma medida. Podemos sentir medo juntos, e ter esperança juntos.

Não é possível prometer que tudo vai melhorar - nem crianças acreditam nesse tipo de promessa. A realidade é sempre cheia de desafios e perigos. Não dá pra negar que botões nucleares nas mãos de Trump e Kim Jong-un, dois meninos mimados e sem limites, põem em alto risco a vida no planeta (principalmente quando Trump diz que seu botão é “maior”). É impossível prever até onde irá a criatividade hedionda dos grupos terroristas, e até quando a guerra civil brasileira será negligenciada pelas autoridades.




A resposta que se pode dar às crianças é a da solidariedade. Mas não pode ser uma solidariedade conformista ou passiva. Elas precisam sentir que não estão sós na sua aflição e saber que há muitas pessoas trabalhando, todos os dias, para enfrentar esses problemas. É um trabalho difícil, demorado, mas que vem sendo feito por pessoas e instituições muito competentes e fortes, que conseguem ir melhorando algumas coisas. E isso é real.

É necessário deixar claro que esse trabalho é dos adultos. Cabe aos adultos cuidar do mundo e lidar com os outros adultos que criam problemas. Os pequenos têm de saber que, enquanto travam a batalha do seu próprio crescimento, podem contar com os grandes no combate aos monstros da ganância e do ódio, que teimam em sair das trevas para assustar a humanidade. E isso precisa ser verdade.

David Moisés e Angela Minatti


Leia também no livro:
Histórias de monstros reais .................... p.273



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