sábado, 13 de março de 2010

Batismo etílico nas festas de 15 anos

Providenciar um terno para o seu filho ir ao aniversário de 15 anos da colega já era um trabalho e tanto, mas agora o debut dos pais na adolescência da molecada vem acompanhado de um problema bem mais complexo: o que fazer com os coquetéis etílicos que os buffets adotaram como grande atração nos bailes?

Nem todo mundo quer ver sua cria estrear no mundo dos gorós com 14, 15 ou 16 anos. Assim como nos tradicionais bailes da primeira-valsa-com-papai, as baladas de hoje também servem para marcar um adeus à infância, mas carimbar esse passaporte com álcool é uma pobreza. Muito perigosa.

Pode-se imaginar como tudo começou: alguém achou bacana inovar e teve a idéia de montar um balcão de coquetéis numa dessas festas, talvez para agradar aos pais e tios que eventualmente estivessem presentes; é claro que os garotos aspirantes a gente grande - com todo o direito e o dever - ficaram empolgados com o desafio, e criou-se um clima muito interessante. O sucesso da festa inspirou as festas seguintes, a ponto de ninguém mais admitir um aniversário de 15 anos sem a oferta livre e generosa de Lagoa Azul ou Sex on the Beach.

Pais têm sido questionados por seus filhos sobre quando permitirão acesso ao balcão dos coquetéis nas próximas festas. E muitos pais não têm sido questionados, o que pode ser pior. Nos bailes-baladas, que há cerca de cinco anos vêm aquecendo o mercado dos buffets, muitos adolescentes perdem amigos por não freqüentarem o bar.

A moda ofuscou a lei, que diz: não se pode servir bebida alcoólica para menores de 18 anos.

Uma mãe que consultou recentemente um buffet para orçar uma festa de 15 anos, sem adultos, questionou o fato de oferecerem coquetéis. Ouviu uma resposta lapidar: "A senhora é quem escolhe... Afinal, o que é que pode e o que é que não pode? O que tá certo e o que tá errado?... Vai do gosto de cada um."

Felizmente, a mesma mãe teve a oportunidade de ouvir, em outro buffet, uma resposta melhor: "Infelizmente não oferecemos coquetéis com álcool, porque a lei proíbe."

Mas há coquetéis sem álcool, e aí aparece outro fenômeno interessante. Se você quiser que seu filho e convidados brinquem de encher a cara, os buffets têm receitas espumantes e fumaçantes para "pensarem que é bebida".

É uma espécie de pedagogia do consumo de álcool, na qual os educadores de balcão servem bebidas doces, adequadas ao paladar infanto-juvenil - ainda não adaptado às bebidas etílicas -, e vão criando um clima legal de aprendizado do hábito futuro.

A propósito, acaba de sair um estudo do Instituto Nacional do Abuso do Álcool e Alcoolismo, dos Estados Unidos, dizendo que beber na adolescência torna muito maior o risco de consumo excessivo e dependência na vida adulta. Segundo a BBC Brasil, os pesquisadores explicam que o cérebro dos adolescentes fica programado para associar o álcool ao prazer.

O estudo ainda será publicado, mas o NIAAA - sigla em inglês - tem outras boas publicações interessantes sobre o tema.

(post publicado em 10/2/2008 no blog de David Moisés no Estadão online)