domingo, 26 de junho de 2011

Palavra de mãe e os pavores infantis

Medo de injeção é comum, mas o garoto que se agarrava àquele corrimão não ia simplesmente tomar uma injeção; ia tirar sangue, como se diz no jargão das crianças desesperadas.

Segundo o compêndio dos pavores infantis, esta situação de emergência é daquelas em que a única saída é a fuga pura e simples.

Como estava no mezanino de um grande centro de diagnósticos, repleto de homens de branco e de preto, restava ao menino atracar-se ao corrimão com todas as forças de seus 6 anos de idade, numa potência até então desconhecida pela mãe - que já desistia de puxá-lo.

Foi quando ela percebeu que a coisa teria de acontecer pelo convencimento. "É só uma picadinha... Não dói nada! Vamos lá!"

O garoto evitava olhar na direção daquela porta entreaberta, a 23,5m de distância, atrás da qual se escondiam os instrumentos que queriam aplicar contra ele. Olhava fixo para o corrimão, concentrado em não se mover dali.

A mãe fez cara de braba, deu bronca, explicou que o médico pediu o exame de sangue, que onde-já-se-viu fazer aquilo, e se sentia ultrajada com a falta de confiança do filho.

Uma funcionária veio em seu socorro, bem treinada para situações assim: "Olha, não precisa ficar com meeeeedo", disse ela com voz trincada e tom infantil.

Como que ensaiadas, mãe e funcionária intuíram que a estratégia seria fazê-lo relaxar. "Então hoje nós não vamos fazer nada, táááá? Deixa pra amanhã. Tudo bem? Pode soltar, não fique com medo. Vamos lá que vou te dar uma bexiga de presente."

Como assim?! Se não vamos fazer nada hoje, por que ir lá?, dizia a face incrédula do menino, que ainda se ancorava nas grades do mezanino.

Por fim, restou à mãe anunciar, carrancuda, que iam embora. Disse convicta de que estava mesmo desistindo. E talvez por isso o pequeno tenha, enfim, largado o corrimão, pondo-se a caminho da saída.

Mas a oportunidade saltou aos olhos da mulher, que num átimo calculou o custo de sair sem o exame, voltar outro dia, convencer o filho, correr o risco de repetir a cena etc. Ágil, ela catou seu pequeno como pôde e o arrastou para o portal dos horrores.

Não foram só gritos. O choro era de súplica, medo, terror, um misto de por-favor e como-pode?...

Só quem estava lá dentro poderia contar o que foi feito para tirar o sangue do menino. Mas foi feito.

Ao deixar a sala de coleta, a mãe era doce e amável, consolando seu pequeno e puxando algum papo para animá-lo.

Ele, com um presentinho indecifrável na mão, enxugava os olhos, triste e enfurecido, e respondia à mãe com um rosnado mais pesado que qualquer palavrão.

E aí? Você faria diferente com seu filho?