quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Comercial da Volks ensina como não ser um pai

Cuidado com Porta da Escola, filme da nova campanha publicitária do Volkswagen Space Cross. É um daqueles que deviam vir com tarja de advertência, não para o produto, mas para a mensagem do próprio comercial.

O paizão modernoso não suporta que o filho de 12-13 anos faça o que todo garoto de 12-13 anos faz: pedir pra não pagar mico ao ser deixado na porta da escola. "Pai, não precisa parar na porta da escola, não. Aqui tá bom", diz o menino.

O pai-garotão, cara de rallyzeiro e baladeiro, desce o nível: "Cê sabe surfar?... Sabe tocar guitarra?... Já pegou alguma garota?..." Ao que o menino responde "não", constrangido com a verdade de seus poucos anos, já naturalmente incômoda e, por vezes, dolorosa.

O golpe final do pai-amigo que virou inimigo vem numa sentença: "Então desculpa, mas se alguém tinha que ter vergonha de alguém aqui, era eu, né?"

São poucos segundos, mas é puro veneno. Cada gota da poção renderia muitas palavas de análise, mas basta aqui focar na estupidez truculenta: o pai-garotão pune com humilhação o filho garoto que busca justamente ser alguém com seus iguais na escola, começando a surfar no mundo dos adultos em construção.

Nada mais necessário para um adolescente do que colocar, por algum tempo, uma linha divisória entre o amor (que deveria ser) seguro dos pais e as novas relações que precisam rolar. Adultos torcem o nariz, esquecendo-se de que já pagaram micos e já fugiram dos micos. Tudo bem. Mas nada justifica a violência de abandonar o lugar de pai e, além disso, acrescentar uma carga de vergonha e culpa ao seu esforço legítimo de quem tenta crescer.

Marketing e publicidade são hoje formadores de cultura, orientam pensamentos e atitudes. Daí porque a campanha da Volkswagen atropela todas as preocupações e esforços pelo desenvolvimento humano, que tem na função dos pais e das famílias (seja qual for o modelo de família) um fator fundamental e estratégico para a sociedade lidar com seus grandes problemas e desafios de hoje.

Quem assiste ao comercial na TV não pode se manifestar. Mas no YouTube você pode, se quiser, "denunciar o vídeo como impróprio".

Ao clicar no botão "selecione um motivo", você não vai achar a opção mais apropriada, até porque elas são muitas. Mas talvez você possa escolher "conteúdo abominável ou repulsivo", que leva a três sub-opções bastante válidas: "estimula ódio ou violência", "abuso de indivíduos vulneráveis" e "intimidação". Também há a opção "abuso infantil".

Os criadores da campanha dirão que não há abuso nem intimidação no filme. Pode ser, mas está havendo na vida real, embalada e orientada por criativos de agências.

(com Angela Minatti)






domingo, 26 de junho de 2011

Palavra de mãe e os pavores infantis

Medo de injeção é comum, mas o garoto que se agarrava àquele corrimão não ia simplesmente tomar uma injeção; ia tirar sangue, como se diz no jargão das crianças desesperadas.

Segundo o compêndio dos pavores infantis, esta situação de emergência é daquelas em que a única saída é a fuga pura e simples.

Como estava no mezanino de um grande centro de diagnósticos, repleto de homens de branco e de preto, restava ao menino atracar-se ao corrimão com todas as forças de seus 6 anos de idade, numa potência até então desconhecida pela mãe - que já desistia de puxá-lo.

Foi quando ela percebeu que a coisa teria de acontecer pelo convencimento. "É só uma picadinha... Não dói nada! Vamos lá!"

O garoto evitava olhar na direção daquela porta entreaberta, a 23,5m de distância, atrás da qual se escondiam os instrumentos que queriam aplicar contra ele. Olhava fixo para o corrimão, concentrado em não se mover dali.

A mãe fez cara de braba, deu bronca, explicou que o médico pediu o exame de sangue, que onde-já-se-viu fazer aquilo, e se sentia ultrajada com a falta de confiança do filho.

Uma funcionária veio em seu socorro, bem treinada para situações assim: "Olha, não precisa ficar com meeeeedo", disse ela com voz trincada e tom infantil.

Como que ensaiadas, mãe e funcionária intuíram que a estratégia seria fazê-lo relaxar. "Então hoje nós não vamos fazer nada, táááá? Deixa pra amanhã. Tudo bem? Pode soltar, não fique com medo. Vamos lá que vou te dar uma bexiga de presente."

Como assim?! Se não vamos fazer nada hoje, por que ir lá?, dizia a face incrédula do menino, que ainda se ancorava nas grades do mezanino.

Por fim, restou à mãe anunciar, carrancuda, que iam embora. Disse convicta de que estava mesmo desistindo. E talvez por isso o pequeno tenha, enfim, largado o corrimão, pondo-se a caminho da saída.

Mas a oportunidade saltou aos olhos da mulher, que num átimo calculou o custo de sair sem o exame, voltar outro dia, convencer o filho, correr o risco de repetir a cena etc. Ágil, ela catou seu pequeno como pôde e o arrastou para o portal dos horrores.

Não foram só gritos. O choro era de súplica, medo, terror, um misto de por-favor e como-pode?...

Só quem estava lá dentro poderia contar o que foi feito para tirar o sangue do menino. Mas foi feito.

Ao deixar a sala de coleta, a mãe era doce e amável, consolando seu pequeno e puxando algum papo para animá-lo.

Ele, com um presentinho indecifrável na mão, enxugava os olhos, triste e enfurecido, e respondia à mãe com um rosnado mais pesado que qualquer palavrão.

E aí? Você faria diferente com seu filho?




segunda-feira, 4 de abril de 2011

Contardo Calligaris: "Qualquer pai adoraria ler"

Em seu Twitter, Contardo Calligaris conta que está lendo nosso livro Prepare as crianças para o mundo. "Qualquer pai adoraria ler", comenta o psicanalista, romancista, autor de teatro e colunista da Folha de S.Paulo.



Postado no Twitter em 1/4/11.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Zuenir Ventura: Aprendendo a aprender



Você sabe qual é o momento exato em que se descobre a relação entre causa e efeito, de recompensa e castigo ou a distinção entre vontade e desejo? Eu também não, mas pelo menos agora estou vendo o fenômeno ocorrer fora de mim. É que minha neta Alice, de 15 meses, está vivendo essa fase, e eu fico imaginando se ela guardará na memória a emoção que sente ao perceber pela primeira vez que uma chave serve para abrir a porta, que o interruptor pode acender e apagar a luz, que o controle remoto liga a televisão, que apertando um botão ela obtém acordes, que aquela caixa azul guardada no fundo do armário é onde fica escondido o biscoito proibido.

E mesmo sem ainda falar, ela já sabe que as palavras não são aleatórias, têm sentido: o som "umbigo" faz com que ela aponte para o próprio. Quando ouve o verbo "dormir", esteja onde estiver, ela se deita no chão e finge que está com sono. Quando alguém diz "vô", ela sabe que se trata de um velho careca que vive babando sobre ela. Não é um gênio?

Sempre ouvi dizer que com as crianças a gente aprende mais do que ensina. Achava uma bobagem, mas não acho mais. Sabe aquelas noções de psicanálise que estão à disposição do leigo em qualquer divã da esquina? Pois a parte referente à infância está sendo posta à prova com Alice. Não, não que ela esteja se interessando por Freud ou Melanie Klein. Ainda não. Eles é que estariam se interessando por seu comportamento.

Lendo o esclarecedor livro "Prepare as crianças para o mundo", de Ivan Capelatto, David Moisés e Ângela Minatti (Unicef, SP, 2009 / prepareomundo@gmail.com), descubro que Alice está na chamada "fase do prazer oral", em que prova o mundo com a boca. Como a única habilidade que a criança traz do útero é a de sugar o leite da mãe, "é natural", explicam os autores, "que (nessa idade) se concentre na boca, língua e garganta toda a energia disponível para lidar com as coisas da nova vida fora daquele barrigão confortável". Portanto, é preciso deixá-la morder o que der na telha, sem repressão: chupetas e mordedores, mas também os brinquedos (desde que limpos), o pezinho, o nosso dedo e a nossa bochecha.Assim é que os bebês sentem prazer, e é assim que começam a gostar de viver por aqui.

É nessa fase também que Alice e seus coleguinhas de geração descobrem que existe um território livre onde podem realizar todas as vontades e caprichos, fazer tudo o que os pais não deixam, como, por exemplo, comer o que não devem na hora indevida. Esse paraíso permissivo onde não há fruto proibido é a casa dos avós.

Aliás, o melhor aprendizado dessa fase é a descoberta de que o bom mesmo é ser avô/avó. A nós, o bônus. O ônus fica para os pais: as noites em claro, o choro pela dor de barriga, as manhas, tudo, enfim, que é desagradável e dá trabalho.

Publicado n'O Globo de 9/3/11.



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Prepare as crianças para o mundo é referência em matéria na revista Crescer

"Amar demais não faz mal" é o título da matéria publicada em dezembro de 2010 que cita o livro Prepare as crianças para o mundo.

A construção da autonomia e da auto-estima são o maior ganho das crianças que recebem uma determinada forma de amor, bastante específica.

A única capaz de construir vínculos e proteger de agressões!

Vale conferir: clique aqui