terça-feira, 10 de julho de 2018

Eles adoram um papo entre amigos






Eles acham engraçadinho quando você faz aquela voz de nenê, fina e fofa, mas nada os atrai mais do que ouvir a voz de outras crianças. Os pequenos que estão na fase pré-linguística, na chamada lalação, têm uma preferência evidente pelos sons vocais parecidos com os seus próprios balbucios, naquela combinação de altos tons e ressonâncias que só a molecada consegue produzir. A constatação foi feita num estudo* canadense, e ajuda a compreender melhor o desenvolvimento da linguagem falada.

A voz das crianças mostrou-se a mais capaz de capturar e manter a atenção dos pequenos, “provocando emoções positivas algumas vezes”, segundo Linda Polka, da Universidade McGill, em Quebec. “Isso pode ser um fator de motivação às crianças para vocalizarem mais.”

Na pesquisa, crianças na faixa dos 7 meses de idade demonstraram essa preferência quando ouviam diferentes sons produzidos por um sintetizador, simulando tons e ressonâncias de vozes masculinas e femininas em diferentes idades. Colocados diante de uma tela com o padrão de um tabuleiro de xadrez, os pequenos podiam fazer o som continuar, bastando apenas manter o olhar na tela, ou interrompê-lo, desviando o olhar.

O padrão vocal de crianças da mesma faixa etária foi o hit indiscutível, sem chance para o padrão dos adultos falando fininho. Ou seja, ninguém engana a molecada quando o babado é falar de igual pra igual. Eles curtem aquela babel silábica, talvez porque curtam a companhia dos seus colegas de fralda.

Nada disso significa que mamãe e papai devam abrir mão daquela conversa na língua dos pequenos. Essa conversa, com a busca de aproximação nos sons e nos sentimentos, é indispensável para o crescimento das crianças. O que o estudo acrescenta à rotina dos criadores de gente é a noção de que o contato com a galera da mesma idade pode ser importante.

Mas é bom ir com calma. O convívio com outras crianças é bacana, mas não dá pra transformar as manhãs dos nenês numa balada permanente. De 0 a 18 meses, aproximadamente, as crianças precisam de uma rotina caseira, calma, repetitiva, tediosa mesmo. A vida lá fora é uma aventura social que será melhor encarada a partir dos 2 anos.

Talvez um esquema adequado seja o das visitas pontuais e dos passeios ao sol, sempre procurando os mesmos lugares e pessoas. Essa repetitividade pode ser também um suporte para as conversas com os outros pré-falantes, fazendo a experiência ser ainda mais gratificante e enriquecedora.

* O estudo foi apresentado em maio de 2018 no 175º Encontro da Acoustical Society of America.

David Moisés e Angela Minatti

Leia também no livro:
A mesmice que faz bem ............... p.30



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