sexta-feira, 25 de abril de 2014

Digite 100 para proteger crianças




É possível fazer algo simples para ajudar crianças que estão nas ruas sendo exploradas e sofrendo abusos. Em vez de engolir a indignação e desanimar com o tamanho do problema, você pode digitar no seu celular o número 100 e relatar situações que tenha presenciado, como a dos meninos na esquina pedindo trocados ou a das meninas abordadas por adultos na gringolândia da sua cidade.

É um alento para pais que se importam com quem não tem pais.

Funciona assim: você liga para o Disque 100, uma gravação atende, toca a musiquinha e um operador entra em seguida para ouvir seu relato, perguntando detalhes e registrando tudo. Não precisa se identificar, se não quiser. A denúncia vai ser encaminhada à autoridade encarregada daquele tipo de problema, naquele Estado e naquele município. O Disque 100 promete informar em três dias as providências tomadas em relação à sua denúncia.

É claro que a linha pode estar ocupada e a musiquinha de espera pode ser longa, mas isso custa pouco se comparado a não fazer nada. É claro, também, que não vai pousar nenhum helicóptero da polícia para salvar as crianças ali na sua frente. O mais provável é que as autoridades agora não consigam ir além do manjado aumento-do-patrulhamento, na semana seguinte, mas já é alguma coisa.

No médio e no longo prazos, um número crescente de ligações pode pressionar o Poder Público a tomar medidas com maior inteligência e eficácia. No mínimo, essa é uma forma de a sociedade dizer que queremos cuidar das nossas crianças.

Há muitas delas literalmente abandonadas, o que quase sempre significa serem subjugadas por adultos. O lado mais tétrico desse problema são o tráfico de crianças, o abuso sexual e a exploração sexual. Para gente minimamente normal, pensar nisso é tão repulsivo que damos um jeito de mudar de assunto. Mas não precisamos mergulhar nessas trevas, basta observar o que salta aos olhos.

Situações a serem relatadas são, por exemplo, a da garota junto à janela do carro conversando com o motorista e entrando no veículo, ou a daqueles marmanjos levando papos com meninos e meninas em praças, calçadões e bares. É fácil ver nas ruas crianças em situações em que a disponibilidade é evidente.

“Recentemente vi num bar na Lapa (Rio) uma mesa com quatro estrangeiros e quatro meninas brasileiras. Ninguém vai com criança para um bar, só se for em família”, explica Ana Cristina Silva, da Rede Criança, ONG que combate a violência contra crianças e adolescentes. “Em qualquer lugar a violação de direitos acontece.”

Ter dúvida sobre uma determinada situação não é problema. Se aqueles homens e aquelas meninas à mesa do bar são parentes ou não, isso é assunto para as autoridades. As denúncias ao Disque 100 são checadas, e o cidadão que liga pode deixar claro que não tem certeza de se tratar de uma violação. “Diga que você tem uma suspeita”, orienta Ana Cristina.

Ninguém precisa correr riscos, tipo sacar o celular diante da cena, com cara de estou-te-denunciando ou se disfarçando de agente secreto. Escolha um momento seguro, ligue e relate tudo o que viu, com todos os detalhes que lembrar - principalmente sobre a localização.

Se a situação for considerada emergencial, o pessoal do Disque 100 aciona diretamente a polícia. Pela experiência, Ana Cristina calcula que leve “umas duas horas” para que cheguem ao local. É tempo mais que suficiente para você decidir se quer ficar para ver a ação policial.

Estrangeiros que vêm para a Copa também terão a chance de mostrar que não praticam nem apoiam o assédio às crianças brasileiras. Como são frequentadores naturais das gringolândias, eles têm grande probabilidade de presenciar situações de violação, e podem também denunciar. Nos aeroportos, ao passar pela Imigração, deverão receber material com instruções sobre o Disque 100.

A Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, que coordena o Disque 100, reuniu no final de março 26 representações diplomáticas em Brasília para cobrar seu envolvimento no esforço de proteção às crianças. “Todos foram muito receptivos e muitas embaixadas se dispuseram a traduzir material para turistas de seus países, alertando-os que serão responsabilizados em caso de violação e orientando-os a fazer denúncias”, conta Marcelo Nascimento, representante da Secretaria.

David Moisés