Não basta falar, é fundamental ouvir, compreender, trocar |
O estudo de pesquisadores dos EUA (Harvard, Pennsylvania e MIT), publicado em fevereiro de 2018, confirma constatações feitas há algum tempo em áreas de pesquisa do desenvolvimento infantil, especialmente a Psicologia. De modo geral, sabe-se que o cuidado afetivo é condição para que a criança construa uma estrutura psíquica e emocional capaz de sustentar seu crescimento como pessoa.
O foco desse estudo está no impacto do diálogo apenas sobre as capacidades de linguagem e letramento das crianças. Os pesquisadores não tinham uma perspectiva do desenvolvimento infantil integral. Mas pode-se ler de forma mais ampla essa relação causal entre a qualidade da "conversa" e o efeito cerebral específico.
Segundo a equipe, quanto mais os adultos falavam e ouviam, e quanto mais as crianças ouviam e falavam, ou seja, quanto mais diálogo ocorria (conversational turns), maior era o benefício. Portanto, não basta falar qualquer coisa com os pequenos, é preciso olhar nos olhos, dar atenção, compreender, buscar ser compreendido, trocar, estar efetivamente junto com eles.
Assim é o cuidado afetivo. Pode-se considerar que o adulto que dialoga com a criança é aquele que estabelece com ela uma relação de afeto, que está atento às suas necessidades e lhe dá suporte. Um adulto que só fala, que diz qualquer coisa quando quer, ou que simplesmente deixa a criança ouvindo a conversa dos grandes não pode ser considerado um cuidador presente.
Neuroimagem mostra ativação em sulcos temporais |
Essa perspectiva mais ampla ajuda a evitar algumas conclusões precipitadas e prejudiciais sobre aqueles dados científicos. Por exemplo, a "conversa de qualidade" dos pais com os filhos não deve ser confundida com uma falação intelectualizada para desenvolver as capacidades linguísticas dos geniozinhos. Isso não seria um diálogo afetivo, e sim um treinamento com alta probabilidade de fracasso.
Dialogar com as crianças tampouco é dar explicações sobre a necessidade de largar o celular e ir pro banho, ou sobre a importância de papar tudo "pra ficar forte". Quer dizer, dar limites aos pequenos continua sendo indispensável.
Numa entrevista recente, Meredith Rowe, uma das autoras do estudo, afirmou que os pais deveriam "desafiar" as crianças a falar, "estimulá-las" a contar como foi seu dia e o que planejam para o dia seguinte... Como se vê, a própria pesquisadora tirou conclusões precipitadas e simplistas de seus bons dados científicos, embalada pela mania perigosa dos "estímulos".
Conversa de qualidade não é falação intelectualizada nem treinamento linguístico; melhor é o diálogo sobre sentimentos |
A boa conversa com a molecada é sobre sentimentos, porque é essa a matéria que eles estão trabalhando constantemente. É um papo em que o adulto começa falando das suas sensações ("que saudade!", "que legal isso!", "hoje levei um susto...", "eu tinha medo daquilo quando era pequeno" etc) e abre espaço para ouvir e acolher tudo o que brotar da criança, em balbucios, palavras, expressões e gestos.
Quando os pequenos percebem que podem expressar o que sentem, sem críticas, instruções ou panos-quentes, ficam mais seguros para processar os sentimentos brutos que assolam a infância. Ao construir uma plataforma psíquica e emocional sólida, é natural que a capacidade cognitiva floresça com vigor. Faz sentido, portanto, ver esse brilho no cérebro das crianças cuidadas por adultos afetivos.
David Moisés e Angela Minatti
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Pós-graduação para crianças ............... p.246
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