Cuidado com Porta da Escola, filme da nova campanha publicitária do Volkswagen Space Cross. É um daqueles que deviam vir com tarja de advertência, não para o produto, mas para a mensagem do próprio comercial.
O paizão modernoso não suporta que o filho de 12-13 anos faça o que todo garoto de 12-13 anos faz: pedir pra não pagar mico ao ser deixado na porta da escola. "Pai, não precisa parar na porta da escola, não. Aqui tá bom", diz o menino.
O pai-garotão, cara de rallyzeiro e baladeiro, desce o nível: "Cê sabe surfar?... Sabe tocar guitarra?... Já pegou alguma garota?..." Ao que o menino responde "não", constrangido com a verdade de seus poucos anos, já naturalmente incômoda e, por vezes, dolorosa.
O golpe final do pai-amigo que virou inimigo vem numa sentença: "Então desculpa, mas se alguém tinha que ter vergonha de alguém aqui, era eu, né?"
São poucos segundos, mas é puro veneno. Cada gota da poção renderia muitas palavas de análise, mas basta aqui focar na estupidez truculenta: o pai-garotão pune com humilhação o filho garoto que busca justamente ser alguém com seus iguais na escola, começando a surfar no mundo dos adultos em construção.
Nada mais necessário para um adolescente do que colocar, por algum tempo, uma linha divisória entre o amor (que deveria ser) seguro dos pais e as novas relações que precisam rolar. Adultos torcem o nariz, esquecendo-se de que já pagaram micos e já fugiram dos micos. Tudo bem. Mas nada justifica a violência de abandonar o lugar de pai e, além disso, acrescentar uma carga de vergonha e culpa ao seu esforço legítimo de quem tenta crescer.
Marketing e publicidade são hoje formadores de cultura, orientam pensamentos e atitudes. Daí porque a campanha da Volkswagen atropela todas as preocupações e esforços pelo desenvolvimento humano, que tem na função dos pais e das famílias (seja qual for o modelo de família) um fator fundamental e estratégico para a sociedade lidar com seus grandes problemas e desafios de hoje.
Quem assiste ao comercial na TV não pode se manifestar. Mas no YouTube você pode, se quiser, "denunciar o vídeo como impróprio".
Ao clicar no botão "selecione um motivo", você não vai achar a opção mais apropriada, até porque elas são muitas. Mas talvez você possa escolher "conteúdo abominável ou repulsivo", que leva a três sub-opções bastante válidas: "estimula ódio ou violência", "abuso de indivíduos vulneráveis" e "intimidação". Também há a opção "abuso infantil".
Os criadores da campanha dirão que não há abuso nem intimidação no filme. Pode ser, mas está havendo na vida real, embalada e orientada por criativos de agências.
(com Angela Minatti)
Interessante apontar também que não é um bom comportamento e por mais que aconteça, o do adolescente que, apesar de ser levado pelo pai à escola, sente vergonha dele. Ele poderia ser melhor orientado pelo pai nesse sentido, óbvio. Mas entre ser natural que o adolescente queira um espaço e ele menosprezar - ainda que momentaneamente - a pessoa do seu pai tem uma distância.
ResponderExcluirClaro que o comercial não resolveu nenhuma questão (e nem é a função dele). Acredito também que além de denunciar o video as pessoas expliquem a seus filhos qual é o melhor caminho, explicando o porquê do vídeo não agir de forma correta. Porque ai não teríamos só publicitários melhores, como pessoas melhores em todas as instâncias da vida.
Olá Angela e David
ResponderExcluirNós,cuidadores, conseguimos perceber a influência negativa de pais imaturos, que não sabem lidar com conflitos naturais dos filhos e acabam, por assumir papéis de "colegas" competitivos.
Parabéns pela iniciativa de denunciar tais atitudes. Nos preocupa em demasia quando, a mídia, transforma tal aberração em "arma de defesa".
Abraço
Heloisa